O ~frenesi em torno de algumas obras não é baseado no diretor, no elenco ou até mesmo na história, mas sim na produtora que comanda aquele projeto! Esse é o caso da Blumhouse, uma produtora que virou sinônimo do horror contemporâneo, responsável pelo renascer do gênero, levando-o, inclusive, as grandes premiações que, normalmente, não são fãs de terror.
Blumhouse: do novo modelo cinematográfico ao Oscar!
A Blumhouse Production, ou BH para os íntimos, é uma produtora de filmes e séries de TV estadunidense fundada em 2000 por Jason Blum, conhecida principalmente pelas suas obras de terror. A Blumhouse foi pioneira na implementação de um novo modelo de produção de cinema em estúdio: filmes de alta qualidade com baixo orçamento e séries televisivas com propostas provocantes.
Esse modelo é a raiz das produções da Blumhouse, assim como a liberdade criativa oferecida aos diretores da empresa e o modelo de distribuição dos longas. O primeiro filme que seguiu essa linha criativa foi Atividade Paranormal, de 2007 – e os resultados atestaram seu sucesso: o filme que custou apenas 15 mil dólares arrecadou mais de 193 milhões pelo mundo. Hoje, a Blumhouse conta com um catálogo de mais de 150 filmes e séries de TV, com um faturamento total que se aproxima de 5 bilhões de dólares – parece que deu certo, não é?
Além de Atividade Paranormal – que se estendeu além do necessário por motivos agora bem compreensíveis – a Blumhouse tem outras franquias de sucesso, como: Halloween e The Purge, além de já ter trabalhado com grandes nomes do cinema, como M. Night Shyamalan, e revelado diretores prodígios como Jordan Peele.

Ao longo das duas décadas, Jason Blum construiu um império assustador de monstruosidades sobrenaturais, deixando como legado a atualização necessária do gênero de terror, que, durante a década de 1990 passou por um período obscuro (no mau sentido rs). Blum e sua produtora deram um upgrade no horror, com obras que fugiam dos clichês do gênero que não funcionavam mais e apostando em roteiros e diretores novos, sem vícios, mas com influência e referência o suficiente para repaginar o conceito e o jeito de trazer o horror para as telas.

Depois de conquistar o universo cinematográfico com seus projetos de terror, a Blumhouse, em parceria com outros estúdios de TV, começou a explorar o meio televisivo, com séries sombrias e provocadoras, tanto de ficção quanto documentários de true crime. The Purge é o exemplo mais notório, seguido da co-produção de Objetos Cortantes com a HBO. Além disso, em uma parceria com a Amazon Prime Video, a subsidiária da produtora realiza uma antologia filmíca exclusiva para o streaming, conhecida como Welcome to the Blumhouse, na qual, em outubro, são lançados 4 filmes de horror com diretores iniciantes e promissores.
As tradições de halloween da produtora, no entanto, começaram alguns anos antes. Sendo está uma data central para o seu negócio, a Blumhouse promove no Parque da Universal, em Orlando, a Halloween Horror Night, ou seja, noite do terror. Nela, são criados trens-fantasma, labirintos e áreas de verdadeiro horror baseada nos principais filmes do estúdio, como a franquia Sobrenatural (Insidious), The Purge, Nós, A Morte Te Dá Parabéns, entre outros.
Comente o seu filme da Blumhouse favorito!

Muito além de forças invisíveis arrastando pessoas pelos cômodos da casa, a Blumhouse mostrou ser possível construir excelentes filmes com um baixo-orçamento, e, hoje, é o estúdio que mais revela cineastas promissores no horror. A produtora elevou o patamar do gênero e conseguiu superar preconceitos e clichês obsoletos, levando suas obras até premiações importantes, como foi o caso de “Corra!” e “Infiltrados na Klan”. Como não poderia deixar de ser, a Blumhouse se mostra destemida em assumir riscos, e tem um catálogo amplo que irá encantar desde os fãs de terror até as pessoas mais receosas com o gênero.
Segundo o próprio estúdio, a Blumhouse está na vanguarda da cultura, tanto pelo renascimento do horror quanto na condução de excelentes séries de true-crime. Eles alegam que se destacam pela identificação de talentos na frente e por trás das câmeras e, apesar de isso ser verdade, como será a abordagem da companhia em relação a representatividade? Por trás das câmeras
Um dos grandes estigmas do gênero de horror é seu péssimo histórico diante de minorias: negros, mulheres, indígenas, LGBTQIA+, pessoas com deficiência e outras etnias quase sempre eram reduzidos a estereótipos ofensivos, violentamente assassinados ou inocentemente salvos por um homem branco padrão. Atualizar o gênero de horror deve envolver, também, melhorar a forma de tratar esses grupos de pessoas tanto em frente quanto atrás das câmeras, não é verdade?
Por trás das Câmeras
A Blumhouse foi fundada por Jason Blum, um cineasta que, antes de iniciar a vida empreendedora, fora um executivo da Miramax, empresa do condenado assediador sexual Harvey Weinstein e seu irmão. Depois atuou como produtor independente para a Paramount Pictures, até abrir seu próprio estúdio. Além disso, seu primeiro filme como produtor, Kicking and Screaming, de 1995, foi financiado após receber uma carta de endosso de um amigo da família, o Steve Martin (!). Ou seja, mais um case típico de Hollywood.

Apesar de ter se provado um ótimo produtor ao longo dos anos, quase três vezes recebendo o Oscar pela função, pelos filmes: Whiplash, Corra! e Infiltrados na Klan, Jason Blum tem uma empresa pouco representativa. A esmagadora maioria dos seus filmes são dirigidos por homens brancos e, mesmo que os roteiros e as narrativas tenham evoluído em relação aos clichês do horror, o poder ainda está concentrado na mão do homem branco padrão. Sintomático, visto que a maioria das suas indicações foram dirigidas por negros.
A liderança da Blumhouse como empresa é extramente padrão e, infelizmente, não surpreende: todos os executivos são brancos, e destes, apenas três são mulheres, que ocupam cargos notoriamente “femininos” como Recursos Humanos, Marketing e Elenco.
Em 2018, Jason Blum foi questionado sobre a ausência de filmes dirigidos por mulheres (ao longo de 18 anos, nenhuma mulher esteve a frente de um projeto criativo da Blumhouse (!!)) ao que ele respondeu “não existem muitas diretoras, e menos ainda mulheres que queiram fazer horror”. Depois ele veio a público se desculpar pela péssima e equivocada declaração, mas a imagem que ele tem das mulheres no mercado já estava marcada.

Nos anos seguintes, a Blumhouse começou a investir mais em diversidade, tanto a frente como atrás das câmeras, além de revelar o talentosíssimo Jordan Peele, vemos mais produções protagonizadas por mulheres, incluindo a Octavia Spencer. Porém, a maioria das obras dirigidas por mulheres não ganham os holofotes da empresa, como é o caso da antologia Welcome to the Blumhouse, exclusiva para o streaming da prime vídeo e pouco divulgada.
É muito fácil se tornar fã da Blumhouse, especialmente se você flerta com filmes de terror e suspense. Apesar de se colocar como vanguarda da cultura e, de fato, revitalizar o gênero do horror, ainda existem mudanças importantes a serem implementadas, principalmente no que envolve abrir mais espaço para produções diversas e quebrar estereótipos ofensivos que marcaram o horror no passado.
5 Filmes para conhecer a Blumhouse Production
Se você ficou interessado em conhecer mais obras da Blumhouse e explorar as suas franquias além do clássico contemporâneo de Atividade Paranormal, é só seguir a lista de recomendações! Todos estão disponíveis nos streamings e devidamente sinalizados! Boa maratona de Halloween (atemporal).