Adolescentes podres de ricos são odiosos, e isso faz com que seus barracos e encrencas sejam simplesmente deliciosos de acompanhar. Gossip Girl marcou uma geração investindo no nicho que extrapola o superficial e nos envolve pelo absurdo de cada situação. Esse era um formato que cabia ao final dos anos 2000, mas que, caso você volte a série da Garota do Blog, verá que ela não sobreviveu as mudanças dos tempos. Será que em 2021 nós precisamos de um reboot desse universo?
Sim! De imediato, amo seitas e picuinhas de ricos e isso junto ao universo teen cria tramas impossíveis simplesmente maravilhosas, o entretenimento horrível que precisamos para desanuviar a mente. O reboot se passa no mesmo universo do original, com os alunos estudando na Constance Billard School (que, parece, não ser mais para ~girls~ apenas), e com referências pontuais e importantes aos ícones do colégio, o quarteto Blair, Serena, Nate e Chuck. Longe de ser uma história ressonante, parece que as citações aos eventos passados servem apenas para oferecer contexto e tom ao que virá da série – e assim espero.
Infelizmente ainda temos o efeito malhação: querem convencer quem com adultos de 16 anos? A idade sempre é uma questão quando se coloca adolescentes com enredos adultos, porque, tal qual o original, veremos histórias com muito sexo, drogas e tramoias que fogem da verosimilhança.
Joshua Safran é o nome por traz do reboot, e também atuou como produtor e roteirista na obra original. Nessa repaginada, prometeu um elenco mais diverso com pautas urgentes e atuais – muito cedo para tecer comentários a respeito desse tópico, mas triste em saber que ~inclusão~ para Safran se restringe a etnia e, por enquanto, sugestões de sexualidade em adolescentes safadinhos. Prevejo conversas sobre poligamia? Sim, mas rasa. Diversidade de corpos? Não tem. Diversidade de identidade de gênero? Vou deixar em aberto, porém, Julien (Jordan Alexander), o maior potencial de debater o tópico por enquanto, deixou claro que usa a moda como protesto, não como expressão pessoal.
Entrando no tema, Gossip Girl foi uma das séries mais influentes no universo fashion – além de trazer grandes nomes do mercado de luxo e deixas a plebe com ~invejinha, também ditava tendências e criava personalidade através dos looks. Logo na estreia, o reboot já tem uma cena paralela com a obra mãe e mostra que a moda será, novamente, um personagem vivo. Julien fala abertamente sobre a questão, e enfim, valida a politização da moda que acontece desde que vestimentas existem. Debates e looks muito promissores por vir. Conversar sobre isso tira a faixa da superficialidade que a série original carregava nesse tópico, e que a matéria fashion tem que lidar desde sempre. Moda é política, storytelling e autoexpressão, e precisamos dissecar mais esse pensamento.

Porém, nem só em paralelos e referências esse episódio de uma hora se concentrou – graças a ~Deus. Gossip Girl 2.1 fez questão de deixar claro de ~bate e pronto~ que veio com uma proposta nova, um enredo próprio e que irá trilhar seu caminho independente, tanto no universo fictício quanto no formato. Logo na primeira metade já sabemos quem é a(s) fofoqueira(s) que quer ver o círculo pegar fogo! Não iremos esperar 6 temporadas para descobrir que se tratava do Dan (amém) (reclamar de ~spoiler é proibido quando o fim data quase 10 anos).
Qual será o mistério, então? Bem, Gossip Girl sempre se tratou em criar picuinha entre os estudantes, e isso é o que não irá faltar! Briga de família, rixa entre irmãs com boy padrão no meio, amigos e amantes, temos muito pano na manga! – como eu falei, adolescentes ricos sendo horríveis, perfeito.
A dinâmica entre Julien e Zoya (Whitney Peak) é bem previsível desde o início, e o paralelo entre a mais nova e Jenny, por enquanto, inevitável. Julien parece seguir um caminho mais complexo como protagonista, e ainda não sabemos qual a verdadeira face da personagem – intrigante, promissor. Já o boy que fica ali no meio é uma padrão branco cis rico (e lindo), Obie (Eli Brown) é simpático, gentil e envolvido com filantropia, parece ótimo para nos decepcionar e agir como um babaca quando menos esperarmos (contraditório, mas é o que eu espero dele).
A ~inclusão e pautas urgente~ colocou um branco para ser o mocinho e ficar no meio da relação entre uma negra e outra birracial. Percebem como o desenrolar da diversidade ainda está meio esquisita? Aguardemos vigilantes.

Para uma pessoa que não gostava muito de Gossip Girl na época (tentei ler os livros e assistir a 1 temporada duas vezes, não deu mesmo), senti uma vibe promissora com o reboot. Encerrando as referências e caminhando com as próprias pernas, a série sugere que terá sua identidade e saberá honrar a obra original sem depender de nostalgia e saudosismo para fazer a história vingar.
Ainda é muito cedo para saber se as atualizações urgentes prometidas serão, de fato, bem executadas e desenvolvidas e não ficarão em clichês datados revestidos de ~inclusão (tem essa possibilidade, infelizmente). Caso a diversidade se perca em histórias abastadas inverossímeis, não vejo o porquê trazer o universo à tona. Esse primeiro episódio foi um epílogo que nos mostrou o (imenso) elenco regular e contextualizou o universo e a encrenca que iremos acompanhar, e eu, particularmente, me encontro envolvida com ressalvas.
Uma observação importante: A voz da Gossip Girl é a Kristen Bell, e isso já vale o play em qualquer episódio.
E a Gossip Girl não mais fofoca em um blog, agora tem uma conta no instagram – então sou, oficialmente, vintage e cringe. Xoxo
2 respostas para “Gossip Girl: reboot tem potencial de brilhar ou explodir”
[…] comentei sobre o debut da nova era de gossip girl, alertei que a sensação era promissora, mas ainda tinha uma clima de bomba prestes a explodir, e […]
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