Homem-Aranha – Longe de Casa é o primeiro filme pós Vingadores Ultimato e mostra o Universo Marvel de recuperando do baque! É impossível falar do filme sem dar spoilers de Avengers pois, é uma grande consequência dos eventos, principalmente para Peter Parker. Ainda sem sabermos o que o maior universo cinematográfico nos aguarda, Homem-Aranha é um filme introspectivo sobre amadurecimento, que aborda questões atuais de forma objetiva e traz muito dos quadrinhos.
Na ocasião do primeiro trailer do filme, apesar da minha intensa paixão pelo teioso, achei fraco e minhas expectativas eram praticamente nulas. Depois, fomos entender que a verdadeira história só poderia ser revelada após Ultimato, e aí sim começamos a conversar. Com Jake Gyllenhaal como Mysterio, a minha hype subiu aos céus, exceto pelo detalhe do multiverso. Enquanto muitas pessoas estavam esperando uma reunião de Peters Parkers, depois de Aranhaverso, a última coisa que eu gostaria de ver era o núcleo do Tom Holland envolvido nisso. Graças a Deus, o multiverso era uma mentirinha da Marvel, surfando na onda do filme oscarizado para gerar o buzz que eles amam. Muitas pessoas ficaram decepcionadas, eu fiquei aliviada! Então, alinhe essa expectativa.
Em Longe de Casa vamos acompanhar alguns meses após Endgame, sendo mandatório o filme dar algumas explicações como: metade das pessoas sumiram por 5 anos e voltaram. De forma rápida, didática e divertida, entendemos como tudo está sendo conciliado e, óbvio, seria inevitável algumas coincidências e facilidades. Todos os amigos próximos do Peter sumiram com ele, e voltaram e o mundo não está tão caótico como o esperado, incluindo a turma da sala do protagonista viajando em uma eurotrip. Para muitos faltou um tom sombrio de resolução desses problemas, mas, como vimos em Homecoming, não é essa a vibe dos filmes do Aranha.
Homem-Aranha de Tom Holland é o filme Teen da Marvel, e isso é um dos pontos que mais amo. John Watts traz muitas referências e clichês do gênero para a direção, e cria personagens semicaricatos que funcionam muito bem. Logo nas cenas iniciais conseguimos reconhecer o “tipo” de cada pessoa e a sua função narrativa, porém aqueles mais próximos ao personagem conseguem manter um bom equilíbrio e não abraçar inteiramente o estereotipo. A dinâmica de Peter com os amigos funciona como um alívio para o personagem e, às vezes, confere uma distração à história principal e uma quebra de tensão. Entretanto, acredito que são esses momentos que trazem um tom teen e a humanidade adolescente do personagem.
O filme é muito pessoal para Peter. O garoto tenta lidar com a ausência deixada por Tony Stark e as responsabilidades enormes que caem em seu colo. O conflito entre o heroísmo e querer apenas ser um adolescente é intenso e ele mostra que ele não está sabendo lidar com tudo. O lema “com grandes poderes vem grandes responsabilidades” é muito presente no filme e, apesar de nunca ser pronunciado, é nítido que é o mantra regente da história. Mais do que um filme de herói, é um coming of age muito sensível, e Tom Holland entrega uma interpretação de partir o coração e queremos abraçar Peter em todos os momentos (eu, pelo menos).
Adorei como a narrativa mistura uma aventura muito doida das férias do barulho, com assuntos sensíveis e delicados de qualquer adolescente médio. No sentido das responsabilidades, Peter é constantemente cobrado de todos os lados, pelos amigos, família e Nick Fury, que não o deixa se acomodar e tirar férias do heroísmo. Ao mesmo tempo que Peter é um menino tímido e desajeitado querendo chamar a crush para sair, tem que lidar com o peso da comparação com Tony Stark, as expectativas de todos, e o clássico que todo mundo passa “não ser bom o suficiente”. Nessa vulnerabilidade do personagem e ausência de uma figura masculina paterna como era Tony, é que a coisa começa a dar errada.
Adoro como Stark, mesmo depois de ter nos deixado, continua muito presente no Universo Marvel, o que era inevitável. Acompanhamos toda a relação de Peter e Tony, e claro que a morte do magnata iria afetar muito o garoto, e o luto é bem presente. Essa lacuna é, em partes, preenchida por Happy (Jon Favreau), que ganha destaque no filme, um aprofundamento, e protagoniza cenas divertidas e muito legais com o Aranha. Enquanto Nick Fury faz a linha exigência e cobrança – típico, Happy entra como um amparo emocional muito legal. A carga dramática é muito presente e bem dosada no longa, e sofri muito com Peter tendo que abandonar a sua ingenuidade e inocência e sendo empurrado para o amadurecimento.
O vilão, Mysterio, é um dos melhores construídos no MCU. Perfeito? Não, mas é mais frequente do que o desejado vilões rasos e fracos nos filmes Marvel, e, felizmente, este é bem desenvolvido e envolvente na história. A química entre Jake Gyllehaal e Tom Holland funciona demais, os dois são perfeitos e não teria como dar errado, sinceramente haha. Gosto de como trabalharam os ilusionismos típicos do Mysterio, e de como aos poucos vamos conhecendo esse personagem que é, sim, bem típicos dos interpretados por Jake Gynllehaal. Desde a CCXP, no qual os dois bonitos vieram fazer uma surpresinha aqui, eu choro (literalmente, é meio pateta) os vendo juntos, e, com a graça dos deuses, eles entregaram tudo aquilo que eu esperava.
A história é muito bem construída com o roteiro genial de Chris Mckenna. O filme é cheio de camadas sutis, mas bem objetivas e clara. De forma lúdica, somos deparados com os traumas de Peter, os diálogos funcionam para o personagem expressar seus dilemas e angustias, as informações necessárias são colocadas de forma divertida como no jornal da escola e o grande plot é uma crítica a Fake News. Sim, o filme aborda muito o absurdo bem contado que as pessoas acreditam, como as informações são manipuladas e fragmentadas contando meias verdades, e isso é muito bem trabalhado no filme. Chris Mackenna conseguiu incluir uma discussão atual junto com o uso muito orgânicos das tecnologias e da juventude, deixando tudo fluido e natural.
A direção de Jon Watts é muito bem construída e ele acerta no tom cômico e dramático. Existem cenas incríveis que nos remetem muito aos quadrinhos no estilo e na estrutura, e acredito ter referência estética de Aranhaverso nisso tudo. A única crítica é mais para o final, onde dá uma leve arrastada na batalha definitiva e cria muitos momentos fragmentados com os amigos que afeta um pouco o envolvimento. Jon Watts consegue se recuperar muito bem das quebras de expectativas que somos deparados no longa, e corrigi alguns problemas de Homecoming sem comprometer a identidade incrível que conseguiu construir. Além disso, entrega referências não apenas dos quadrinhos, mas de cenas da trilogia clássica de Sam Raimi, como no filme anterior!
Por fim, muitos detestaram a relação de MJ com Peter, mas eu achei a coisa mais preciosa. Adoro como MJ é construída e interpretada por Zendaya, gosto da dinâmica torta entre os dois, e como ela é uma menina diferente do estereotipo de crush típica, tendo um estilo próprio, sendo inteligente e ousada. O filme consegue incluir a diversidade em vários momentos sem palestrar sobre o assunto e fazer de tudo um big deal. Adoro o Flash Gordon e como as piadinhas foram concentradas em Ned, diminuindo as rupturas do alivio cômico. Os cenários são lindos e divertidos, conhecemos a Europa de um jeito meigo e engraçado.
Acredito que o Homem-Aranha do Tom Holland toma algumas liberdades criativas do personagem, se distanciando em alguns pontos dos quadrinhos. É, sim, uma adaptação e não acho que cabe cobrar fidelidade das HQs, mas entender o contexto no qual o personagem está inserido dentro do MCU. Eu adorei os conflitos de Peter e como é empurrado na história, o relacionamento com o Tony Stark é muito rico e cria uma profundidade para Peter e sua identidade nesse universo dos filmes. Os paralelismos com a adolescência e coming of age ajudam a criar vínculo com o público e a ressignificação do teioso funciona para mim. Eu acredito que Longe de Casa é melhor que Homecoming, muito bem-feitinho, competente, leve e envolvente, e considero um acerto trazer um aspecto teen e dramático para um universo dominado por adultos e grandes questões.
CENAS PÓS CREDITO: Existem duas cenas nesse filme e que, FINALMENTE, entregam conteúdo. Odiava quando a Marvel nos fazia ficar até os pelo amor de Deus no cinema para entregar uma palhaçadinha solta. Nesse filme temos indicativos do que nos aguarda na fase 4 do MCU – esquece multiverso, reforço – e eu não poderia estar mais empolgada. As duas cenas se relacionam com o filme, tem referências MARAVILHOSAS que eu fiquei extasiada, e traz uma explicação ótima de coisas que poderiam gerar incômodo no filme. Eu amei as cenas, uma das melhores já providas pela MCU, deixam um gancho AGONIZANTE para Homem-Aranha, e para tudo que está por vim. PODE ENTRAR FASE 4!
PS: Cena pós crédito de Vingadores Ultimato é a cena de abertura do filme, então essa re-exibição do filme é bem bleh, não perdemos nadinha haha.
Uma resposta para “Homem-Aranha Longe de Casa é sobre as consequências sociais e psicológicas de Vingadores”
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