Deadly Class é dramas, drogas e rock ‘n’ roll (com muito sangue)

Esqueça Hogwarts, já pensou em estudar numa escola para assassinos? Pois é neste local que se passa a nova série Deadly Class. Seguindo a onda de produções pesadas e baseadas em histórias em quadrinhos, o novo seriado aposta em uma narrativa frenética que mistura a loucura e impulsividade adolescente com aulas de veneno e missões homicidas – qualquer um sabe que essa é a fórmula perfeita para dar tudo errado, não é mesmo? Ah, e conta a com a nossa amada Lana Condor (Lara Jean) como Saya, uma assassina primorosa e produção dos Irmãos Russo (sim, os dos Avengers).

Deadly Class é um seriado baseado numa série de HQs produzido pelo Syfy que chegou aqui no Brasil pela Globoplay. Nele vamos acompanhar a história de Marcus (Benjamin Wadsworth), um jovem órfão morador de rua que um dia é abordado por uma charmosa e misteriosa garota fazendo um inusitado convite para estudar numa escola para assassinos. Apesar da sua fama de ser responsável pelo incêndio em um orfanato que resultou na morte de várias crianças, Marcus não é uma das pessoas mais queridas da nova escola, e arranja confusões pesadas logo no primeiro dia. O garoto não vai apenas abalar as relações sociais da escola, como também sua estrutura docente. Sacudindo tudo e todos ao redor, tirando-os da sua zona de conforto.

Eu diria que, a nível comparativo, Deadly Class é como uma junção de Umbrella Academy com Carmen Sandiego. Seguindo esse movimento de séries para o público 18+, a história é extremamente violenta, com uso explícito de drogas pesadas, e que se encaixam muito bem com a narrativa proposta. Os 10 episódios de cerca de 45 minutos são suficientes para construir uma boa trama, que é complexa e cheia de reviravoltas, o que a torna bem dinâmica. A contradição está em criar uma narrativa bem doida, que vai ganhando proporções enormes, e, apesar de responder várias perguntas com o decorrer dos episódios, muitas coisas são deixadas em abertas no final da temporada, e não apenas como um gancho, mas como se a história não fosse concluída – muitas pontas soltas para os próximos capítulos.

Deadly Class - Pilot

A história foca bastante na importância de se ter um amparo psicológico e amoroso na vida, e como a falta desse local emocionalmente seguro pode afetar o desenvolvimento dos jovens. Todo mundo que está naquela escola é perturbado e os pais estão no centro desse desequilíbrio, sendo porque abusam dos filhos ou foram assassinados. São jovens que conheceram desde muito cedo uma realidade torta, violenta, com agressões e homicídios fortemente presentes. Percebemos que todos vivem uma aparência imperturbável que não condiz com as suas verdadeiras personalidades e se escondem atrás de uma máscara que Marcus, óbvio, vai aos poucos tirando dos amigos que faz. A mensagem de que todos estão terrivelmente machucados, procurando um propósito para a vida, preencher um vazio enorme que sentem é bem legal – e a mensagem que encontram isso na família que escolheram também.

Com o decorrer dos episódios vamos conhecendo melhor as pessoas da escola, os amigos e inimigos que Marcus faz e a parte legal é que conhecemos o background perturbador de todos ao redor do protagonista. Os personagens são bem trabalhados e construídos, com nuances e motivações diferentes baseadas nos traumas que viveram. Uma das coisas mais sensíveis é a necessidade dos jovens pela normalidade, por se encaixarem numa realidade onde querem aquilo que mais tememos: o ordinário, a estabilidade. Os momentos de flashback são tecnicamente muito interessantes pois, ocorrem em forma de quadrinho, remetendo a arte de Wes Craig, o que cria um link muito legal com a obra original e traz um recurso visualmente diferente. Um grande acerto narrativo da série.

deadly class saya

A amizade inimaginável das pessoas que são historicamente rivais é muito legal, e a forma como ela é conduzida convence o expectador e faz com que queiramos fazer parte desse grupo torto e maluco de amigos – principalmente dos Punks, eles são muito especiais. Eu amei como as relações adolescentes foram retratadas, tocando em pontos muito sensíveis, exaltando a diferença e questões de cada um, que alterna entre matar alguém e falar com a menina que gosta. Porém, vendo a forma bacana que as amizades eram tratadas, me irritou do fundo da alma colocar macho no meio de amizade feminina.

Acredito que em pleno 2019 é muito chato essa narrativa de meninas que eram amigas e acabam entrando em conflito pelo novo cara do pedaço – isso é um mini spoiler, mas previsível desde o primeiro episódio. Especialmente que a história dava indícios de que isso não fosse acontecer, e teria formas melhores de lidar com a situação – é compreensível, mas só não é legal. As garotas são incríveis, badass total, Saya e Maria (María Gabriela de Faría) são as personagens mais instigantes, com potencial de complexidade e aí puft, dá uma leve cagada – apesar disso, elas ainda são o ponto mais alto da narrativa, donas do seriado.

deadly class friendship

Outra coisa que me desagradou foi a heteronormatividade com que tudo é tratado. A série busca ser inclusiva nos termos étnicos, com personagens japoneses, chineses, mexicanos, negros, punks, russos e até fascistas, porém nenhum sequer sai da linha heterossexual. Ainda preso na piada da orientação sexual, isso é usado como algo ofensivo e de chacota para desarmar o bully. Fica chato e difícil de defender quando temos meninas brigando por garotos, caras abusivos, e nenhum contraponto a essa história toda, né? A única que sai dessa caixinha um pouco é a Petra (Taylor Hickson).

A série se passa nos anos 80, assim como os quadrinhos, mas essa nostalgia não é muito explorada, acredito que por opção. Então, essas características estão levemente presentes nas roupas, nas fitas e walkmans, pagers, modelos dos carros e principalmente nas músicas. A trilha sonora é FANTÁSTICA e composta por muito Rock e Punk (amo) com hits da época e que se encaixam perfeitamente a toda ação sanguinolenta e drama adolescente acontecendo. Definitivamente uma das melhores coisas de Deadly Class e recomendaria ouvir mesmo sem assistir a série.

Deadly Class - Season 1

Fora isso, eu diria que a série escorrega na sua busca por identidade própria. Ela parece meio genérica nesse gênero de terror com ação que está em alta ultimamente. Diferente de Titãs ou Umbrella Academy que conseguem criar uma personalidade própria, que advém de um conjunto de fatores como fotografia, cor, direção de ação, direção de arte e linguagem, Deadly Class peca ao fazer tudo isso muito bem, mas sem nada memorável. As cenas de luta são muito bem executadas, os efeitos especiais competentes, mas nada se destaca.

Apesar de ter falado mal um monte, eu adorei a série! O roteiro é bem feito, e faz um trabalho incrível em trazer assuntos delicados de uma forma caricata e conseguir tornar os personagens incrivelmente frágeis e adolescentes. No fim, minhas críticas em relação a isso é que eu queria mais, muitas perguntas ainda aguardando respostas que, certamente, virão na segunda temporada. A proposta de fazer escola Kings receber os filhos dos chefes de organizações criminosas, para aprenderem sobre o oficio que herdarão, como os Carteis Mexicanos, Yakuza, Máfia Russa, KKK, Gangsters, enfim, só gente boníssima, é maluca, para dizer o mínimo.

Deadly Class - Season 1

Por fim, a escola tem uma proposta que me identifico (levemente, calma) de levar poder para as pessoas oprimidas. Master Lin (Benedict Wong), o diretor, é um personagem rico e que vai nos conduzindo numa narrativa da paradoxical vida adulta, contrastando com os adolescentes. Eu fiquei muito interessada em ler as HQs (aceito, inclusive hehe) e comparar o quão próximo essa adaptação foi, mas, olhando daqui me soou como um trabalho competente. A série traz muita nostalgia das comicbooks, que é bem legal também. Ela não cansa de surpreender o expectador, e os personagens não cansam de fazer bobagens que os colocam em situações impossíveis. É muito problema teen resolvido com Katana e drogas, então eu diria que Deadly Class vale o seu investimento, pelo menos para o entretenimento garantido.

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2 respostas para “Deadly Class é dramas, drogas e rock ‘n’ roll (com muito sangue)”

  1. A série parece muito boa, gostei muito da premissa! Uma ambientação diferente do que estamos acostumados a ver, e eu nem sabia que era baseada em um quadrinho. Irei atrás agorinha!

    Curtido por 1 pessoa

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