Nosso Último Verão é genérico e despropositado

Novo mês, novo filme teen original Netflix. O maior streaming está apostando pesadíssimo nesse nicho e colocando vários astros do público adolescente como protagonistas, mas será que está zelando pela qualidade da obra? Nosso Último Verão completa o check list do gênero, porém, fica só nisso e entrega um filme sem graça.

Como falei nas estreias do mês, Nosso Último Verão (The Last Summer) vai contar a história de um grupo de jovens (que não necessariamente se conhecem) vivendo suas últimas férias antes de ingressarem na faculdade. Cada um deles tem grandes planos para curtir o fim da adolescência, mas nem tudo sai de acordo com suas ideias, para o bem ou não. É uma período intenso no qual eles tem que tomar decisões importantes, aproveitar as oportunidades e avaliar o que querem leva para a próxima etapa.

O filme exala cultura jovem norte-americana, com festas típicas, 4 de julho e mudanças de cidade para ingressar na faculdade. A sensação assistindo a qualquer um dos núcleos do filme é “eu já vi essa história antes, e não foi uma vez”. Basicamente, no longa temos cinco núcleos acontecendo ao mesmo tempo, que, apesar de alguns se cruzarem, a história é independente, o que impede o desenvolvimento satisfatório da maioria deles. Numa tentativa de replicar as técnicas de Idas e Vindas do Amor (clássico romcom), Nosso Último Verão falha com personagens estereotipados, rasos e envolvidos num drama previsível. O roteirista, ainda, opta por deixar a comédia de lado e embarcar num YOLO teen que não convence e não conquista a audiência.

Durante os primeiros dez minutos de filme fica evidente que o roteirista é um homem branco hétero com uma adolescência meio frustrada e excessivamente idealizada – e isso não teria problema se ele procurasse sair da própria bolha. Existe o fetiche, que nunca irei entender, do menino que transa com a moça para quem presta serviço do emprego de verão; tem o menino que termina com a namorada e depois conhece uma menina gostosa, mas burra, e ai se arrepende; o cara que quer ser o bom moço no estilo “não sou como meu pai” e; óbvio, os nerds que querem perder a virgindidade antes da faculdade. Eu juro que esses são os núcleos, mas calma, que piora.

nosso ultimo verao netflix

Além da menina gostosa de baixo QI (que é ridículo), a gente tem narrativas nas quais as garotas são arrastadas para relacionamentos que, no começo da história, deixaram claro que não queriam. Isso é romântico no filme, mas a minha implicância é que as garotas são puramente uma visão machista restrita, dizendo quase um “quem não vai querer ter um rolinho com uma cara bonito e legal?” – spoiler: muita gente – sem contar o padrão físico das mulheres. Já os garotos estão vivendo uma história egoísta cujo objetivo único é transar e ir para a faculdade, no qual só afirma o fato de que as cagadas que todos fizeram acabou os recompensando de alguma forma e lição nenhuma foi aprendida. Egoísmo do homem transformado num ato de romance e mascarado de “poxa, mas ele é fofo” ou “eu não sou como todos os outros”.

A minha motivação para assistir a esse filme foi K.J. Apa (aka Archie Andrews/Riverdale). O que aconteceu foi que o roteirista (peguei para Cristo) quis colocar o Archie no filme dele e escreveu um personagem igual – não dando margem para ver a atuação do K.J. porque, coitado, não tinha material para trabalhar. Ainda assim, protagoniza o melhor núcleo, dividindo a tela com Maia Mitchell. A história estrelada por Sosie Bacon (Os Treze Porquês) segue o mesmo esquema, com uma versão soft de Skye, mas que, em essência, continua sendo a mesma pessoa – entrega um material interessante para o contexto da obrigatoriedade social de fazer faculdade, talvez a única coisa boa extraída do longa.

nosso ultimo verão kj apa

Em linhas gerais, o filme é uma chuva de clichês sem personalidade, e este é o maior problema. As quase duas horas são arrastadas quando você não consegue se envolver com os personagens e os seus dramas, vendo uma história que não evolui de forma satisfatória. O filme tenta criar uma atmosfera que não te conquista, se apoiando em cenas e aventuras típicas do gênero, mas que não transmitem sentimento algum. Netflix dominou um nicho esquecido, porém, no momento que percebeu isso, começou a produzir umas bombas que, olha, são difíceis.

Havia a esperança de transformarem o gênero teen/romcom em algo mais inclusivo, diverso e contemporâneo, porém, além dos smartphones, isso não vem acontecendo. Como falei na crítica do Date Perfeito, representatividade não é só colocar diversas etnias, é trabalhar com elas também, e em Nosso Último Verão não existe isso – além da heteronormatividade que chegue a doer. Nada é original: trilha sonora genérica com hits do momento; direção de arte qualquer coisa e; fotografia apoiada no rosa e azul que já, inclusive, passou a moda haha (ai gente, desculpa, mas né?).

the last summer netflix

Infelizmente, a Netflix optou por produção em massa e resolveu sacrificar as boas histórias, contratando uns roteiristas mais ou menos que estão presos em preencher um check list do gênero ao invés de criarem histórias originais e com personalidade. O elenco de peso para o público teen com K.J. Apa, Maia Mitchell, Sosie Bacon, Halston Sage e Tyler Posey é mal aproveitado e não adianta se munir dos queridinhos se vai fazer filme ruim! Um filme, para mim, precisa passar uma mensagem, ter evolução de personagem ou um envolvimento se quer, e esse não tem nada disso.

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