Na última sexta feira (26), chegou na Netflix a segunda temporada de She-Ra – o reboot comandado por Noelle Stevenson. A animação ícone dos anos 80, apesar de ter uma mensagem incrível, precisava de uma repaginada para conversar melhor com o público de hoje e suas demandas. Apesar de manter sua essência, muita coisa mudou, e, na minha opinião, para melhor!
Começando pela responsável por idealizar esse projeto: Noelle Stevenson. Essa mulher é simplesmente incrível. Ilustradora, quadrinista e produtora de animações, Noelle é responsável pela minha HQ preferida, Nimona (em outra oportunidade falo sobre ela, mas saiba que é perfeita e você precisa ler). Conhecida por seus projetos com muita diversidade e personagens tridimensionais, a autora consegue transitar entre o fofo e infantil para o dramático e complexo com maestria, e isso enriquece demais o projeto. Não mais a única princesa do poder, o reboot traz suas mudanças desde o título, que coloca a palavra no plural. She-Ra ganha muito saindo das mãos de produtores homens e aperfeiçoando o desenho em si, com um foco além de apenas ser uma alavanca de vendas de bonecos.
Como falei nesse texto, She-Ra tem muito potencial, e Stevenson lapidou e a atualizou a animação de forma a saltar as características boas e sumir com a maioria dos defeitos. Aqui vão as maiores mudanças sofridas e, consequentemente, motivos para você assistir à animação, independente da idade.
- A relação de She-Ra com seus poderes
No desenho antigo, Adora encontra seu, até então desconhecido, irmão gêmeo, recebe a Espada Mágica e puft: She-Ra nasce plena para salvar a todos. Agora, não! Adora ainda é uma espécie de escolhida pela Espada, mas, primeiro, não tem intermédio nenhum de homem, e, segundo, ela não sabe direito como funciona e não tem lá tanto glamour haha. O intermédio do He-Man aqui é importante pois, na série original, ele simplesmente entrega a ela a Espada e, aqui, Adora acha e descobre sobre a arma sozinha! A sua jornada é mais individual, focada no autoconhecimento, sem que ninguém diga a ela quem é ou o que deve fazer.
Nessa nova versão, acompanhamos Adora descobrindo aos poucos como invocar a She-Ra e quais poderes essa grande guerreira tem. Nada é encarado de forma blasé, mas com muito espanto e, principalmente, questionamentos. Adora quer entender por que só ela consegue se transformar em She-Ra, por que a Espada a “escolheu” e da onde vem toda essa mitologia, o que mais isso esconde.
Diferente da primeira versão, na qual isso não tem muita explicação, as questões ligadas ao poder da protagonista guiam a história. Somado a isso, a descoberta da verdade sobre a Horda por Adora é repleta de conflitos! A troca de lado da batalha feita pela personagem não é fácil, vemos suas emoções colocadas em cheque, o impacto que essas descobertas e ações do grupo que, antes fazia parte, têm na vida dos locais. Adora é amplamente trabalhada, tem personalidade, tem profundidade e amadurecimento!
- Relações de Amizade
Os amigos de Adora também tem seus arcos e desenvolvimentos. Além disso, relação que cada um vai construindo ao longo dos episódios é muito especial, servindo não só para destacar a suas personalidades distintas, mas criar uma conexão real e evoluir a narrativa.
Arqueiro e Cintilante tem uma amizade incrível – os dois são muito diferentes, mas tem uma sintonia que remonta a amigos de infância. Eles se respeitam, reconhecem os pontos fortes um do outro, confiam e se apoiam mutuamente. Os dois ainda criam uma relação diferente quando conhecem Adora, que abala um pouco essa amizade, e a ajuda se desenvolver ao mesmo tempos. Os três foram um trio de amigos espontâneos, que mais do que compartilhar aventuras, dividem seus medos, frustrações e inseguranças. Agora Adora não precisa carregar o fardo de She-Ra em segredo, seus amigos sabem e auxiliam nesse conflito da protagonista.
Essa, por sua vez, tem uma relação super complexa com Felina. Amigas de infância e órfãs, cresceram juntas nas instalações da Horda, e, mesmo com as condições de tratamentos diferentes que recebiam, desenvolveram uma enorme cumplicidade e parceria. Felina é uma pessoa muito difícil e tem apenas Adora como sua amiga, enquanto está é uma querida. Quando Adora foge da Horda, a relação das duas fica estremecida, e ai mergulhamos num emaranhado de emoções que nos deixa muito divididos.
Então temos uma amizade linda e saudável que amadurece nas dificuldades e reconhece seus erros, e uma amizade que beira a toxidade e mostra um lado mais obscuro dessa relação.
- Girl Power – As Princesas do Poder
A primeira animação fez algo inédito para a época e mostrou as líderes de Etéria como mulheres mega poderosas – mas, infelizmente, na maior parte isso ficou muito dito e pouco mostrado. Como uma das atualizações necessárias, temos um melhor desenvolvimento das Princesas do Poder, conhecemos quais são suas especialidades mágicas, sua importância no ecossistema de Etéria e a vemos efetivamente liderar exércitos e cidades. Conhecemos os castelos de cada uma e vivenciamos as duas diferenças físicas e emocionais.
A tentativa bem sucedida de fugir dos estereótipos femininos agrega demais a animação. Enquanto na primeira todas eram iguais (por uma questão tecnológica, mas não só), agora temos princesas que amam tecnologia, princesas gordas, princesas lésbicas, princesas negras, enfim, todos os tipos – não só físico, pois temos princesas doces e meigas, blasé, agressivas, e tudo mais. O romance é posto de lado, e as mulheres no desenho estão preocupadas com o futuro do seu reino, com seus planos, em fazer acontecer as paradas – para o bem, ou para o mal.
Houve, também, um processo de dessexualização das vestimentas das personagens. Enquanto na animação original She-Ra usava um mini vestido tomara que caia com salto alto, agora nossa heroína tem uma macaquinho confortável bem mais apropriado para salvar o dia. As demais personagens também se livraram dos seus figurinos agarrados e marcados e ganharam roupas estilosas e em conformidade com suas personalidades e estilos de batalhas. O melhor de tudo foi o fim daquela maquiagem e roupa ridículas de Felina, sendo completamente renovada, oferecendo uma proposta de personagem bem mais interessante.
- Representatividade é o lema
Esse é um dos valores no qual Noelle Stevenson se apoia para criar suas histórias e o que precisava trazer para She-Ra. A animação já tinha conquistado o público LGBT mesmo nos anos oitenta, se tornando referência nesse meio, mas, convenhamos, essa nunca foi a intenção deles. Agora, propositalmente, She-Ra traz uma narrativa que faz o possível para fugir da heteronormatividade. Temos um casal lésbico de princesas e personagens com gênero e orientação sexual fluidos – em entrevista, a produtora inclusive afirmou que praticamente todos são assim. O que originou o maior ship da animação na atualidade: Adora e Felina.
Não só no âmbito LGBTQ+, mas Stevenson traz também diversidade racial para a animação. Os personagens tem cores diversas, não se limitando a um único tom, e, dentro disso temos as diferentes culturas de cada reino. O universo bate tanto na tecla de criar pessoas diferentes, personagens reais (na medida do possível) e bem estruturados que é quase impossível você não achar ninguém para se identificar – a menos que seja um homem padrão sem graça, porque She-Ra não trabalha com coisas sem graça. Nada de esteriótipos, nada de mais do mesmo – o mundo é plural, os conteúdos também precisam ser.
- Mitologia
Tangenciando um pouco o aprofundamento de personagens, temos o guarda-chuva disso tudo que é a mitologia. A animação atual mostra constante preocupação não só em dar um background aos personagens, mas função narrativa que se conecte com a grande história por traz, a Espada Mágica de She-Ra. Dessa forma, a origem dos poderes das princesas, a aplicabilidade de cada castelo e o domínio e doutrinação da Horda se convergem para um ponto em comum e cria motivações que antes inexistiam.
A nova She-Ra traz um desenho muito mais interessante e cativante de ser assistido por ter uma história continua, que explica e questiona o que está acontecendo com seus personagens. Sombria, uma peça fundamental da Horda, era totalmente jogada e ninguém entendia muito qual era a dela, isso, agora, mudou. Bem como o papinho de feitiço de domínio mental na Adora, que, contribuindo para o discurso político da série, assume que estava consciente quando fez as atrocidades pela Horda – que não sabia ser má. No todo, a história, as motivações e consequências são muito melhor trabalhadas e bem mais interessantes.
Aqui não entrou a qualidade técnica da animação porque isso é bem óbvio que mudou e melhorou bastante (e está indiretamente contemplada). Porém, vale dizer que a nova She-Ra é linda, o desenho é uma graça, super expressivo, colorido, cheio de arco-íris, roupas incríveis e poderes mágicos. A transformação da She-Ra faz referência a Sailor Moon e demais animes da época, o que é incrível, encantador e dinâmico – especialmente porque ela não o faz a cada 5 minutos como no original haha.
A única ressalva desse reboot é que ele manteve seu público-alvo bem fiel, por isso tem uma linguagem infantil. Diferente de Carmen Sandiego (confira aqui), She-Ra pode não agradar aos não entusiastas de animações devido a essa inclinação mais ingênua. Apesar de apresentar uma trama interessante e bem construída, com reviravoltas e profundidade, os diálogos e situações são destinados a um público mais novo.
Recomendo muito que você assista She-Ra, que tem muito a pegada de Steven Universe, e indique para as crianças ao seu redor, para crescerem com uma animação muito mais inclusiva, complexa e com valores fofíssimos. Atualizações são sempre bem vindas, especialmente quando melhoram algo que nasceu com muito potencial! Noelle Stevenson soube trazer o melhor da She-Ra dos anos oitenta para hoje, consolidando essa animação histórica.
13 respostas para “A nova She Ra é melhor que a antiga?”
Nossa quanto homem chato, eu simplesmente amei o desenho, é interessante como só tem homem se doendo kkkk tirar os peitões e o mine tomara que caia de uma personagem é realmente cutucar uma ferida. A série atualmente tem 5 temporadas e Fala sério, é incrível, com uma trama bem mais complexa que a anterior, eu tenho 21 anos e consegui me prender mesmo o desenho voltado pra um público mais infantil, as relações entre as personagens são incríveis, o desenvolvimento de cada um muito bem trabalhado, eu achei a obra inspiradora. E sobre as relações homo afetivas tem cumplicidade apenas, tratadas com naturalidade e de maneira inocente, não tem nada sexualizado, não é diferente de nenhum casal/ship hetero que tem em vários desses desenhos infantis, então qual o problema? Afs sem paciência pra essa gente, só sei que apresentei o desenho pra minha irmãzinha e ela amou também, então meus mais sinceros fodase pra todos esses macho se doendo, fico feliz em saber que a animação tá inspirando garotinhas a serem fortes e independentes. E plmd nenhuma criança se torna gay ou lésbica por ver algo assim, se vocês tivessem crescido vendo mais desenhos desse tipo talvez tivessem entendido que o mundo é diferente e aprendido a respeitar as diferenças dos outros e não sendo o tipo de cara escroto que vejo nesses comentários. Beijos de luz pra vocês.
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Obrigada por esse comentário haha! Concordo plenamente com você, e, além de tudo, She-ra é um desenho super inspirador, com mensagens lindas de amizade, força, união, diversidade e respeito. É muito rico em tudo, e lindo. Fico feliz pelo seu comentário ❤
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Gente, só os macho escroto comentando aqui?! Tão realmente comparando hipersexualização com relações homoafetivas? Bando de machistas e homofóbicos! Chorem menos queridos, os tempos mudaram! Aceita que dói menos, o desenho é incrível!
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Vsf, feminazi escrota de 13 anos. Vc não sabe poha nenhuma da vida ainda. Vai fazer chapinha nos cabelos do seu suvaco e fazer textão no face que é mais tua cara. Não se mete em coisas que vc não conhece. Bjs.. 😁👍
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isso msm!
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Realmente o desenho tem apenas o nome do antigo e dos personagens, é outro desenho tentando alavancar no sucesso do predecessor. Além de tudo vem esses argumentos nada a ver dizendo que não pode sensualizar colocando uma mulher bonita com decote e saia curta, aí criam duas meninas lésbicas e colocam no desenho.
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Discordo da materia, she ra da decada de 80 foi um sucesso pois tinha a referencia de He-man, a historia da espada vindo do meio da floresta foge da historia real, a moda de fazer personagens infantilizados em todos desenhos animado e tentar sexualiza-los com gêneros, esta um saco, e as Felina, Sombria e Sintilante assim como a She ra eram muito melhores antes, lamento mas não agrada a todas as idades.
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Essa série é uma BOSTA, assim como sua opinião. Melhor que a antiga? Nunca! Jamais! Quem faz uma porcaria dessas, quem tem a coragem de mudar os traços originais de um clássico como esse, Pica-Pau, Tartarugas Ninja e outros, deveriam ser PRESOS sem direito a fiança. Simplesmente mataram o desenho, que fez parte da infância de todos da época. Quem é vc pra querer opinar em coisas que não são da sua época?
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“She-Ra ganha muito saindo das mãos de produtores homens…”. Parei de ler aí. Pena não ter um botão de “dislike”, creio que não puseram um temendo a enorme repercussão negativa.
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Concordo PLENAMENTE.
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Fique claro aqui, antes dos palhaços petêhuckanizados falem as suas merdas: não me interessa o que rola entre 4 paredes entre duas pessoas, seja quem forem. O que sempre acho desnecessário essa necessidade de colocar um gênero forçado antes de uma produção cultural, desenho ou arte para menores de 18 anos. Ponto.
O que Zezinho ou Luizinho faz na cama é problema deles. Trazer She-ra para essa realidade, onde ela já era uma baita de uma mulher, claro em desenho animado, na década de 80 para essa politicagem de gênero de quinta categoria é terrível; abominável. Relações sociais, sejam quais forem, não tem nada haver com caráter, produtividade e não define quem somos! Chega de indução, como capacho, das pessoas. Quer botar esse cool como lgbt, ponha classificação prévia e a partir das 23hs em qualquer rede social. Isso é respeitar a lei.
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Quer dizer que não pode sexualizar nas vestimentas, mas pode colocar personagens “fluídos sexualmente”?
Isso para crianças?
Não pode colocar roupas decotadas nas personagens, mas pode colocá-las pra beijar? Não pode colocar a she-ra pra ter um romance heterossexual “por não ter tempo pra romance” mas duas princesas podem? Isso pra crianças? Tudo pelo lacre! O mainstream não desiste…
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Na minha opinião, eu encaro a série She Ra da Netflix como uma obra fora do universo da série original dos anos 80. Noelle Stevenson criou um novo universo,e com a visão totalmente diferente do original pois a série dos anos 80 era mais focado na mitologia, essa versão perdeu a essência e o foco da lenda da She-ra focando totalmente em relações super complexa dos personagens,com isso perdendo a beleza e a essência do original. A Noelle Stevenson utilizou o nome dos personagens, cenário, e pequenos padrões da série original, para tentar embarcar na fama do anterior. She-ra é uma história muito boa e clássica e por isso que fez muito sucesso nos anos 80, para termos um apego e uma experiência melhor com a série nova devemos encarar como se fosse um outro universo com nenhuma relação com o clássico apesar do nome. Todas as duas obras são boas em seu universo.
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