O Mundo Sombrio de Sabrina | Parte 2 – Crítica

Finalmente está entre nós a parte 2 das confusões da bruxinha mais petulante da televisão, Sabrina Spellman! Após uma primeira parte trevosa, com altos e baixos do roteiro e um leque de perguntas não respondidas, a série volta ainda mais sombria, corrigindo seu ritmo e quebrando várias teorias dos fãs! Sabrina vai descobrir que assinar o livro da besta foi apenas o começo dos seus problemas.

Essa é uma crítica livre de spoilers da segunda parte, no entanto, inevitavelmente, terá spoilers da primeira – por razões óbvias haha. Ela vai começar imediatamente depois do especial de Natal, com Sabrina (Kiernan Shipka) optando em estudar por período integral na Academia de Artes Ocultas, pedindo, assim, licença de Baxter High por um tempinho. Conhecendo bem a recém transformada bruxinha, sabemos que ela não concorda com uma porção de regras da Academia, e nem vai muito com a cara do Padre Blackwood (embuste), já causando no seu primeiro dia.

E é logo no primeiro episódio que percebemos que a história não perdeu sua essência feminista, ao contrário, resolveu ir mais fundo na discussão. Desde a primeira parte temos inserções sutis de falas feministas, pequenas, mas intensas, alfinetadas. Agora, essa temática ficou ainda mais profunda, ampliando a discussão e a trazendo para o cerne da história, questionando não apenas os dogmas da Igreja da Noite, mas de toda a construção religiosa e, consequentemente, social atual.

Por meio de figura do Padre Blackwood, vemos ideias antigas e conservadoras querendo reaver seu lugar, negando direitos conquistados pelas mulheres – qualquer semelhança com a realidade é proposital. A série bate na tecla das ideias misóginas e no subjugamento das mulheres, mostrando de forma debochada o medo que os homens têm de perder a posição de poder e relevância para o sexo feminino, sabotando e excluindo as mulheres. A conclusão que chegamos é que realmente não dá para confiar em homem, para surpresa de ninguém haha. É inevitável numa história sobre bruxas não abordar a temática feminista, mas vemos que, mesmo essas mulheres símbolos da luta contra o patriarcado, nasceram de ideias machistas.

CAOS 2

A crítica e, de certo ponto, deboche das religiões cristãs, especialmente o catolicismo, continuam mais presentes do que nunca, porém, agora, convergindo diretamente para o desenvolvimento da história. Isso é o ponto que traz certo incômodo para as pessoas religiosas, mas que, ao mesmo tempo, propõe reflexões pertinentes. A segunda parte conseguiu amadurecer essas duas discussões, tirando-as apenas da posição de humor ácido e ilustrando sua importância na narrativa e aprofundando os debates.

Falando especificamente da história, os produtores e roteiristas ouviram as críticas e melhoram demais seu ritmo. Já tendo apresentado o universo e os personagens, algo que dá muito trabalho, essa segunda parte tem mais liberdade para aprofundar no mundo do ocultismo e caminhar com a história. A personagem da Sra. Wardwell (Michelle Gomez) tem um desenvolvimento incrível, sendo finalmente apresentado para nós quem ela realmente é, suas motivações, angustias e conflitos – é uma das mais ricas e bem escritas da série.

CAOS 1

Outro tema que a série resolve seguir trabalhando, e não é esquecido no churrasco para a alegria dos fãs, é o transgênero. Susie (Lachlan Watson) continua sendo uma das personagens mais intrigantes e que segue na sua jornada de autoconhecimento, não se restringindo apenas aos primeiros episódios, mas por toda a série. Em contrapartida, Roz (Jaz Sinclair) e Harvey (Ross Lynch) são um dos pontos mais baixo dessa parte. Os dois não são muito bem trabalhados, e, apesar da amiga de Sabrina ser uma peça fundamental na trama e ter seu desenvolvimento, o relacionamento com Harvey é algo que não deu muito certo. Além da química zero entre os dois, tudo acontece de uma forma pouco natural e convincente. Harvey foi um personagem que sobrou demais, meio solto na narrativa, sem uma função palpável além de trazer ótimas referências da cultura pop (ele é chatinho mesmo, agora enxergo isso haha).

Essa morosidade do personagem fica ainda mais evidente com o destaque que Nick Scratch (Gavin Leatherwood) tem nessa parte. O feiticeiro conquista não apenas o coração de Sabrina, mas o nosso também, com o seu jeito confiante, apoiando e acreditando na bruxinha e ainda permitindo-se ser vulnerável. O arco do personagem é surpreendente, e vamos conhecendo uma nova faceta dele a cada episódio. Seu relacionamento com Sabrina é natural e orgânico, e os dois tem uma química surreal #teamnick. A dinâmica da amizade entre Brina, Susie e Roz, também é um dos pontos altos, com nosso trio superando as diferenças, entendo e apoiando uma as outras – nada de rivalidade por macho (ainda mais Harvey, né? Credo)!

CAOS 4

Nessa parte, ainda, conhecemos melhor o Dark Lord, que contribui com o aumento da trevosidade da série. Por meio dele e do seu desenvolvimento vamos obtendo as respostas que ficaram tão pendentes na primeira parte, e amarrando todas as pontas que pareciam soltas e despropositadas. Sabrina ganhou um ar muito mais sombrio, com cenas fortes de possessões demoníacas, violência e sangue, mostrando que realmente não é uma coisa lá muito fofa (apesar de eu achar rs). O ritmo da série melhorou demais, e apesar de episódios densos, cheio de informações e cenas fortes, o tempo passa muito rápido. Ao final dos nove episódios vemos que MUITA coisa aconteceu, num nível quase frenético de confusões.

Gostaria de dizer que não temos barrigas como na primeira parte, mas não é verdade, e o episódio quatro, intitulado Capitulo Quinze: A Casa de Horror do Dr. Ceberus, tá ai para encher linguiça. Apesar de ser referenciado no decorrer da narrativa, esse episódio segue os moldes daquele do pesadelo da primeira parte, e é realmente cansativo, chatinho e quebra um pouco o ritmo. Nem tudo é perfeito, não é mesmo?

Tirando esse pequeno escorregão, a série melhorou muito! Os efeitos bruxuleantes das bordas borradas são utilizados com moderação e melhor execução, os monstros são menos mostrados e, por tanto, menos toscos (exceção do Capiroto que é meio bizarro). A trilha sonora segue incrível, contando até com uma cena musical que é, no mínimo, perfeita! E, claro, a presença dos melhores personagens, a família Spellman, continua intensa, unida e desafiando o mundo bruxo para assegurar o bem de todos, e consertar as encrencas de Sabrina.

CAOS 3

Roberto Aguirre-Sacasa, criador da série, conseguiu levar O Mundo Sombrio de Sabrina a outro patamar. A história surpreende até os mais teorizadores da internet (eu inclusa), envolvendo o expectador ao máximo, quebrando nossos corações e entregando um final desesperador. Com uma ambientação especial e autoral baseada nos quadrinhos (que ele, por um mero acaso, também escreve), a série mostra a que veio e conquista o seu espaço. Falando nas HQs, elas serão lançadas em maio aqui no Brasil, e, apesar de manter a mesma atmosfera da série, a história é bem diferente, recomendo muito! (E aceito de presente).

Sabrina Spellman volta mais poderosa, petulante e decidida! Uma das personagens mais cativantes da atualidade, a bruxinha não enxerga limites quando o assunto é proteger as pessoas que ama e entender seu passado. Se você desistiu na primeira parte, peço um pouco de persistência, porque a série realmente dá uma boa guinada! O Mundo Sombrio de Sabrina é uma série importante, que traz um elenco diverso e procura discutir de forma forte, natural e irônica temas muito atuais e importante.  E, a melhor notícia de todo esse post: já confirmadas a terceira e a quarta parte. Ou seja, têm muitas confusões do barulho para essa turminha da pesada ainda!

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4 respostas para “O Mundo Sombrio de Sabrina | Parte 2 – Crítica”

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