O machismo pode acabar com a vida de uma mulher. Nós precisamos de histórias honestas, fortes e que falem sobre os danos imensuráveis que essa cultura causa nas meninas, mas que também exalte a importância do feminismo e da amizade. Afinal, mulheres são como água – juntas somos mais fortes.
Logo nas primeiras páginas vamos acompanhar Lola terminando seu relacionamento com Leo, que é feito de uma maneira pacífica, mas meio emocionalmente pesada por parte do garoto. Nossa protagonista está em ano de vestibular e decide que é tempo de se dedicar integralmente aos estudos, e a sua paixão: a música. Apesar de conseguir fazer tudo isso, é claro que a vida se encarrega de desviar um pouco os planejamentos da mocinha e algumas surpresas vão aparecer e ter consequências inimagináveis.
13 segundos é um livro sobre machismo, feminismo e amizade. Lola é uma personagem cativante: decidida e prática como uma boa capricorniana, superdivertida, leve e segura – indo na contramão da maioria dos livros YA que normalmente abordam adolescentes inseguras e com muitas questões, e apesar de me identificar com esse segundo tipo, acho importante mostrar essa variedade de personalidades. Como eu disse, não foi alguém com quem eu me identifiquei, mas alguém com quem ao longo das páginas fui desenvolvendo muita empatia – conhecendo uma realidade diferente. Bel foi muito precisa em nos levar para o universo da Lola e dentro da cabeça da personagem, e, durante a leitura, é como se ela fosse uma amiga minha me contando tudo.
Falando sobre amizade, esse foi o ponto do livro que mais me conquistou – para a surpresa de ninguém. A autora trabalha de forma brilhante o círculo de amigos de Lola, que é relativamente amplo, mas que nós conseguimos identificar a personalidade de todos e nos divertir muito com eles. Pouquíssimas vezes vi tão bem representado essa relação e amizade adolescente grupal como em 13 segundos. O modo como a Bel inseriu as conversas de whatsapp foi muito natural e verdadeiro, o grupo das quatro amigas se tornou imediatamente as minhas partes preferidas do livro. Amizade é um dos pilares da obra, e eu adorei a forma como a autora valorizou esse relacionamento tão importante na vida! Além de, é claro, como não poderia deixar de ser com a Bel, inserir tanta diversidade dentro desse núcleo de forma orgânica e autêntica.
No comecinho dessa resenha disse que o livro é sobre machismo, feminismo e amizade, pois bem, 13 segundos fala sobre revenge porn. Isso, infelizmente, é um produto proveniente de uma sociedade machista (e doente) e que está mais presente em nossas vidas do que gostaríamos. Todo mundo ao menos conhece alguém que já foi vítima dessa ação cruel, e, causa um sentimento indescritível de terror em quem sofre. Sabemos que ter sua intimidade exposta na internet vai acarretar em danos imensuráveis em todos os âmbitos possíveis, é virar a vida de cabeça para baixo na beira de um abismo.
A sexualidade feminina sempre foi uma questão, e, principalmente, sempre esteve nas mãos dos homens. Acontece que esse controle sobre a vida sexual da mulher é uma forma de opressão, uma forma de dominação social e o revenge porn é um atestado disso. Nos vídeos nos quais tem dois seres transando, quem sofre TODAS as consequências é a mulher – ela é a vagabunda e derivados, o homem passa despercebido. É um escândalo uma mulher segura do seu corpo, que gosta de sexo, que fala sobre sexo abertamente, que tem fetiches e que perde as contas de quantos parceiros já teve na vida. Tudo isso as pessoas querem controlar, querem colocar como errado – e estão sempre prontas para apontar o dedo e fazer atrocidades em relação a isso.
O clássico “mulher para casar e para se divertir” nada mais é do que fruto dessa mentalidade doentia, na qual coloca a mulher que gosta de flertar, gosta de transar, ou simplesmente mais extrovertida, como um puro objeto de entretenimento. No patriarcado, casamento e dominação social são praticamente sinônimos e mulheres sexualmente seguras e livres não são dominadas, e logo não servem para o homem machista. Afinal, mulher segura, feliz e livre assusta não é mesmo? Enfim, dei a maior volta, mas Revenge Porn é isso – uma crueldade vil, machista, que perpetua uma cultura de humilhação e opressão da sexualidade feminina que de DESTRÓI a vida da vítima.
Sobreviver a esse tipo de vingança não é fácil, e muitas meninas infelizmente acabam cometendo suicídio. O livro da Bel vai nos mostrar a dor dilacerável que a vítima sente, a desesperança, o desespero, mas também vai nos mostrar como passar por tudo isso. E não tem segredo a não ser SORORIDADE e apoio do que nos amam (não ter segredo não significa ser menos difícil). E daí a importância do feminismo, da empatia, e da amizade (e família, claro) – pois isso salva vidas e, possivelmente, salvou a da nossa personagem. Sempre em tempo de lembrar que a vítima não tem culpa nenhuma, e só existe uma pessoa errada: a que quebrou a confiança e divulgou o material!
Acredito que foi por isso que Bel trabalhou tanto a vida e a mente de Lola ao longo da leitura – conhecemos a mocinha inteira. Como disse no comecinho da resenha, o que senti por ela foi uma enorme empatia, e foi esse sentimento que me permitiu sentir um pouquinho da sua dor. Pela primeira vez eu vou abrir mão de contar mais sobre as minhas impressões em prol de não dar spoilers. Porque não saber algumas coisas criou um clima de tensão e “ai meu Deeeeeus” durante toda a leitura, e acho que ele é importante para a experiência. Só queria dizer que o final ACABOU comigo e fico imediatamente ao aguardo de uma continuação pois, MUITAS coisas que eu quero ver – aquele final não me satisfez eu preciso de MAIS haha.
Por acompanhar o trabalho de Bel há um tempão, ler o livro foi como se eu a ouvisse narrando a história na minha cabeça. A escrita é muito particular dela, o jeito de falar e de abordar a história, e eu acho isso muito especial. Tem alguns vício de linguagem, mas não interferem na fluidez da leitura. E como e comprei a primeira edição, tem alguns errinhos de revisão, mas né gente, quem nunca? Olha esse blog haha.
13 segundos é o primeiro romance da Bel Rodrigues e, posso afirmar, que só existem razões para se sentir orgulhosa! Traz uma história importantíssima, com uma abordagem sensível e uma mensagem essencial. Bel bate de frente com uma cultura machista colocando uma personagem feminina empoderada e segura como Lola (que parece ter pulado do Tumblr para as páginas impressas), com amizades de mulheres igualmente sensacionais e mostrando como unidas somos mais fortes! Apesar de bater forte na tecla da sororidade e da liberdade feminina, em nenhum momento o livro e pedante ou raivoso, mas honesto, delicado e intenso. Ah, e o livro fala muito de música, já que Lola canta! Então todo capitulo começa com uma música e a própria obra tem sua playlist no spotify que é muito boa!!
Esse foi o livro do mês de setembro do clube de leitura Infinistante, criado pela Make, Loma e Mel, e a primeira vez que consegui fazer a leitura junto com elas. Normalmente ou eu já havia lido, ou eu não tinha como fazer aquela leitura no momento. Eu amei esse timing da meninas junto com o meu, e encaixou certinho. Se você quer participar de algum clube de leitura, recomendo muito o Infinistante, as meninas sempre estão fazendo leituras incríveis, e as lives comentando são completas e divertidas!
Enfim, leiam 13 segundos. Incentivem a literatura jovem nacional. A edição está linda, olha essa capa. Precisamos falar sobre Revenge Porn. Beijos.