Nunca é tarde para assistir algo cuja popularidade já passou um pouquinho. Big Little Lies é uma história atemporal sobre o papel das mães na sociedade. Por mais que as pessoas digam que é ótimo (e aqui eu escrevi horrores falando isso), nunca vai ser tão bom quanto experienciá-la. Vem entender um pouquinho do porquê.
Esse é o primeiro post da categoria “Não Vi na Hype” cujo nome é autoexplicativo haha. Provavelmente sou uma das pouquíssimas pessoas que ainda não havia visto Big Little Lies, assisti à série há uma semana e ela continua muito viva em mim, fiquei impactada real. Por isso, já adianto que todo o hype criado, os burburinhos, prêmios mil que ganhou, tudo foi MERECÍDISSIMO, pois ela é uma série NECESSÁRIA, forte, com uma história excelente e discussões fantásticas. Mas afinal, do que se trata essa série tão premiada e comentada?
A história começa no primeiro dia de aula das crianças. As todas as mães vão levar seus filhos até a escola e é mais um evento para os adultos do que para os próprios pequenos. É aí que Jane (Shailene Woodley), nova moradora da cidade, conhece Madeline (Reese Witherspoon), e sua melhor amiga Celeste (Nicole Kidman) – formando um trio unido de amigas. No final do dia, todas as mães voltam para buscar seus filhos e são surpreendidas pela notícia de que a filha de Renata (Laura Dern), Amabella, foi esganada, e a criança aponta Ziggy, o filho de Jane, como culpado. Madeline sai em sua defesa, Ziggy nega veementemente que tenha sido ele, e a confusão está armada. Ah, e no meio de tudo isso, são intercaladas cenas de um futuro próximo que indica que alguém foi assassinado – e pessoas desse ciclo social depondo.
No primeiro episódio já somos fisgados! As crianças são cativantes, misteriosas e as mães são igualmente complexas. É dentro de um problema que parece muito desproporcional – uma guerra de mães por causa de uma briga de crianças – que vamos nos aprofundando nas personagens e conhecendo melhor Jane, Madeline e Celeste, principalmente. A série se passa em Monterey, Califórnia, um lugar lindo, de gente rica e elegante. E tudo é ao mesmo tempo uma crítica a sociedade americana, e uma crítica ao modo como essa sociedade encara o papel das mães.
O primeiro ponto é que tudo, absolutamente tudo, nesse ciclo social das mães de crianças, é motivo de competição e rixa. A partir da confusão com os dois pequenos, as mães se separam em times, fazem picuinhas e chantagens, para ver quem sai vencedora – do que, exatamente ,não sei, e nem elas. As mães colocam os filhos como desculpa para a rivalidade, mas na verdade percebemos que elas são empurradas para essa competitividade, que o “sistema” incentiva esse comportamento nocivo de quem é a “melhor mãe”. Sabemos bem que o modelo sociocultural incita e nutri a competição entre mulheres, e, apesar de escrachado, a serie ridiculariza e aponta como problemático esse comportamento. E por isso, apesar das crianças estarem no centro da confusão, essa é uma história essencialmente sobre as mães.
Todas as mulheres têm um ar melancólico quando não estão mantendo as aparências. Isso porque estão sustentando um personagem que não condiz com o cotidiano privado. Como o próprio título sugeres, todas contam Pequenas Grandes Mentiras para manter um status. Essa série foi um dos melhores trabalhos audiovisuais em caracterização de personagens femininas que já assisti. Aqui temos mulheres diferentes, fortes, que não são perfeitas, cada uma lutando uma batalha diferente e igualmente difícil e tentando manter o que a sociedade exige delas.
O que eu mais gostei é como a série tem esse olhar holístico sobre a mulher, que é mãe, mas não só isso, ela também tem vontades, ambições, frustrações e que ter um filho não as supri por completo. Ademais, a série nos mostra que existem vários tipos de mães que amam e lutam pelos seus filhos, e que podem errar (e feio) no meio disso. A história vai abordar abuso sexual, mães que trabalham, mães que tem um estilo de vida não convencional, mães que se dedicaram somente aos filhos, mães solo. e relacionamento abusivo.
Esse último tópico é o que mais mexeu comigo e eu só tenho elogios para a forma como esse assunto foi desenvolvido. Eu escreveria um artigo exaltando o modo delicado, sensível, verdadeiro e honesto como foi construído e desenvolvido a relação entre a mulher e o abusador. Todas as histórias têm um desdobramento excelente, e as conexões e relacionamentos evoluem brilhantemente, de um jeito surpreendente e real.
O assassinato, que comentei no começo, permanece um mistério absoluto até o último momento. Enquanto isso, todos os episódios temos trechos de depoimento de personagens de “background” (nem nome eles têm), que, de maneira caricata e escrachada, vão comentando sobre as protagonistas. Esse é o ponto irônico e no qual a série mais estampa a disparidade entre o que as pessoas acham que acontece, e como é de fato. É fundamental para a construção da mensagem que a série quer passar. O assassinato é um dos momentos mais fortes da trama, carregado de emoção, e não teria outro jeito possível dessa história terminar.
Big Little Lies é uma série que mostra para o mundo que só uma mulher sabe a dificuldade que é estar nesta posição – e a importância das amizades e do apoio em momentos complicados. O desfecho é genial e uma lição sobre sororidade, empatia e cumplicidade. E, claro, sobre o amor que as mães tem pelos filhos, como se sacrificam, e movem céus e terras para garantir sua felicidade e bem-estar. É uma história linda, forte e real! A série é uma adaptação do livro homônimo escrito por Liane Moriarty, e estou louca para fazer essa leitura!
As atuações são um dos pontos mais altos da série, tanto que rendeu alguns premiozinhos. Um elenco de peso que trouxe uma carga dramática inacreditável. Nicole Kidman é dona de um dos papeis mais importantes e difíceis da série, e ela se apropria dele com maestria. É impossível não se emocionar, se envolver e torcer pela personagem – me arrancou dias de agonia. Reese Witherspoon e Shailene Woodley também estão excelentes, as três tem uma química boa como amigas, e suas diferenças faz a amizade ser interessante. Laura Dern não foi muito comentada, mas é uma atriz que adoro e acho que ela está genial como Renata. E claro, Alexander Skarsgård, Perry Writgh, também merece uma citação de honra pelo papel bem desempenhado.
Todos os episódios são dirigidos por Jean Marc Vallée, e com fotografia de Yves Bélanger, e que show essa dupla entrega aos expectadores. Um trabalho bonito, competente e cheio de sutilezas, detalhes que fazem a diferença. Uma direção que soube se colocar no lugar das personagens, e extrair a emoção e a verdade de cada uma. A trilha sonora é espetacular, e a música de abertura não vai sair da sua cabeça tão cedo. HBO sabe fazer uma abertura de série, vamos ser honestos, não dá nem vontade de pular haha. Todo o clima da série, as músicas, a direção de arte, as paisagens, cria uma vibe envolvente, que é calma e tensa (e supérflua) ao mesmo tempo.
Enfim, perdoem a empolgação, mas por favor assistam Big Little Lies! Ela tem somente 7 episódios de 55 minutos cada. Originalmente foi escrita para ser uma minissérie, mas dado os resultados positivos teremos uma segunda temporada. Estou apreensiva? Estou. Mas nessa segunda temporada teremos MERYL STREEP num papel que promete confusões pesadas. E, com esse elenco, e esses roteiristas, e a produção da autora do livro, acho que pode ser sucesso sim! AAAAH e a série está disponível no HBO GO 😉