Um filme delicado sobre um amor de verão. Cheio de frases lindas, momentos marcantes, fotografia incrível, todo poético, mas, que no fim, fala com a gente sobre a gente.
Me Chame Pelo Seu Nome conta a história de mais um verão na vida Elio (Timothée Chalamet), um adolescente de 17 anos que mora no norte da Itália. Quando chega essa época, seu pai (Michael Stuhlbarg), professor universitário e orientador, recebe um estudante em casa por 6 semanas, e o hospede da vez é Oliver (Armie Hammer). Durante esse período, os dois irão se conhecer melhor, desenvolver uma amizade e, principalmente Elio, entrar numa experiência de descobertas e amadurecimento.
O filme é adaptado por James Ivory do livro homônimo escrito por André Aciman, e conta com a direção do italiano Luca Guadagnino que entrega um excelente trabalho. A câmera nos ajuda a entender como Elio enxerga Oliver, ela é delicada, mas ao mesmo tempo curiosa, existe um desejo e um admiração pelo estudante americano que é transmitido ao expectador. Uma cena em particular me chamou muito atenção, quando eles estão em uma festa, e tem um plano sequência incrível de todos dançando e curtindo o momento (uma coisa muito vibes). A fotografia é maravilhosa e ajuda a contar a história, além e fornecer esse ar de “filme europeu” e ressaltar a jovialidade do nosso protagonista e a suas inconstâncias e dúvidas. E os enquadramentos das cenas, que lindo.
Como a trama se passa em 1983, as músicas e todo o design de produção é ambientalizado para a época, e fica com um tom impecável de década de 1980 na Europa e verão, além da trilha sonora linda, enfim, tudo contribui para criar um clima de romance. Itália no verão, né? Imagino que seja algo de se encantar com certa facilidade haha.
No que tange a história, esta não segue a narrativa clássica do cinema, ou seja, o protagonista não tem um grande objetivo/desafio a ser cumprido, ou, para muitos, um filme que não acontece nada. Ele tem um ritmo lento, mas que, assim como um amor, vai te conquistando aos poucos, de uma forma meio desajeitada e inocente. Durante o processo vemos Elio enfrentando os dilemas típicos da puberdade, como a curiosidade, o desejo a flor da pele, a confusão nas interpretações de sinais, a ansiedade agonizante de esperar uma resposta da pessoa desejada, os joguinhos que envolvem um relacionamento amoroso/sexual. Tudo é muito fofo, ingênuo e divertido, em nenhum momento é tratado de forma debochada, mas verdadeira – o que arranca de nós um sorrisinho tímido de identificação. É muito fácil se relacionar com os dramas de Elio.
Outra característica importante é que Elio é um jovem um pouco atípico, criado em uma casa multicultural, com os pais intelectuais, que falam diversos idiomas (sério, deve ser uns quatro). Ele faz leituras rebuscadas e tem uma mente livre, sem tabu e preconceito. Por isso, o surgimento e desenvolvimento do amor com Oliver não é tratado como algo proibido ou que gera crises, mas algo natural e super aceitável. E é lindo ver essa descoberta sexual na puberdade do protagonista e essa aceitação em viver o desejo. O tema de desejo é constantemente trabalho, principalmente nas esculturas gregas (eu acho?) que o pai de Elio e Oliver estão trabalhando – O Oliver está lá a trabalho, afinal haha. O filme traz várias passagens de livros que ajudam também a contar a história e se relacionam com os acontecimentos. Tudo muito intelectual haha.
A atuação do casal principal é perfeita, e eles passam a essência dos personagens de uma forma natural e leve. Não conhecia o trabalho do Timothée Chalamet, mas já conquistou meu coração. Destaque para a última cena do filme, o que é aquilo? Sensacional esse mocinho. Ah, e ele fala italiano e toca piano (música clássica, claro, porque tudo é muito erudito rs) no filme, ou seja, parabéns. Armie Hammer também está ótimo no papel, e, como é proposto pelo filme, você se admirar por Oliver tanto quanto Elio o admira, ele ajuda a concretizar esse objetivo.
O que eu gostaria de ressaltar é que o filme é leve, delicado, sensível e muito honesto. Não vá esperando um romance hollywoodiano, isso você não irá encontrar, mas algo da vida real. É um amor de verão, onde tudo é intenso, rápido, mas permanente nos nossos corações. A mensagem final, proferida pelo pai de Elio é ápice do filme (a família do Elio é maravilhosa, sério, que gente serena e para frente), ela toca na alma, e não é apenas para o protagonista, mas é para todo mundo que se permite viver a experiência desse filme incrível.
Esse não é um filme adolescente, mas um filme sobre esse período. Se você gosta de um filme europeu, ou sobre a vida e suas fases, ele é imperdível. A narrativa te entrega tudo sobre se apaixonar, descobrimento da sexualidade, desejo, sexo (de uma forma erótica, natural e sem tabu), amizade, e relação familiar. É lindo, tanto a história quanto visualmente, divertido e que vai te trazer uma sensação de compreensão e fofura que, no final, você suspira e fica “ai ai, acho que tomei um choque de realidade” e fica com um olhar de reflexão.
Me chame pelo seu nome conquistou meu coração, e quanto mais eu penso sobre ele, mais eu gosto! É um daqueles casos que conversa muito com a sua fase de vida, e mensagem pode se relacionar a você de diversas formas.
PS: Tem o livro (como eu disse que era uma obra adaptada), mas eu ainda não li. Ouvi críticas muito boas, e no geral, as pessoas parecem satisfeitas com a adaptação (não posso avaliar, obviamente). Mas pretendo realizar essa leitura, se alguém já leu, aceito comentários.